Eu não sei quanto a vocês, mas fico tentando imaginar o que se passa na mente de um político quando pensa em algo assim
Disclaimer é um substantivo em inglês, que basicamente avisa ao interlocutor, ou interlocutores, que esteja ciente de que o que irá ler, ver ou ouvir pode não ser “exato”, ou mesmo ser entendido de várias formas, ou ainda, grosseiramente falando, “o risco é seu”.
É muito utilizado nos Estados Unidos para tentar isentar de responsabilidade o autor ou o fabricante de alguma coisa. Por isso, segue o meu: o que irão ler é totalmente perturbador, pode causar raiva, ou vergonha alheia, e mostra o tamanho da mediocridade do Brasil.
Bem, não é novidade alguma o 7×1 – quero dizer, 700×0 – que o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) meteu no governo Lula com o vídeo sobre a norma de monitoramento do PIX pela Receita Federal, porta de entrada para a cobrança de impostos de sonegadores.
Tsunami midiático
A meu ver, a norma era perfeitamente legal e corriqueira. No Brasil e no mundo, qualquer órgão estatal fiscalizador e arrecadador utiliza informações de movimentações financeiras para controle, fiscalização e possível cobrança de impostos.
O que Nikolas fez, com muita sabedoria e malícia políticas, foi misturar alho com bugalho, sempre de forma fática, sem mentiras, manipular as informações e plantar uma dúvida do tamanho do mundo na cabeça de dezenas de milhões de brasileiros.
Como o governo Lula não goza de credibilidade, e é useiro e vezeiro em prometer e não entregar, afirmar e descumprir, ninguém acreditou na versão oficial de que a medida não iria descambar em cobrança de impostos dos trabalhadores informais.
Emenda pior que soneto
Autoritários como sempre, Lula, seu governo e aliados de esquerda, ao invés de rebaterem com argumentos as insinuações de Nikolas, preferiram adotar a velha prática: ameaçar com processos judiciais, chamar tudo de fake news e desqualificar os brasileiros.
Agora, resolveram inovar. Uso a terceira pessoa do plural e sujeito indeterminado, porque o autor da estrovenga – que será devidamente qualificado em seguida – é vereador do PT mineiro e sobrinho-neto de Dilma Rousseff, logo, do mesmo campo lulopetista.
Eleito em 2024, Pedro Rousseff me pareceu de uma geração, digamos melhor, mais bem-preparada do que a “velharia petista mofada dos anos 1980”, mas creio ter me enganado. Ao menos é o que deixa transparecer seu energúmeno projeto de lei.
Apertem os cintos
Apresentada na quinta-feira, 16, na Câmara Municipal de Belo Horizonte (CMBH), a ideia do herdeiro político da nossa eterna estoquista de vento é a criação e inclusão de uma matéria “anti-fake news” na grade curricular das escolas municipais da capital mineira.
Sim. É isso mesmo. No país em que não se aprende português e matemática, o gênio petista quer “promover a alfabetização midiática e a formação de estudantes com capacidade crítica para identificar, analisar e combater a desinformação”.
Quanta viagem, meu Deus
“Foi introduzida uma disciplina de ‘Alfabetização Midiática’ no currículo, que se mostrou efetiva em garantir que crianças e jovens reconheçam notícias falsas – o país figura no 1º lugar entre 41 nações europeias em matéria de resiliência contra a desinformação“.
No escopo do projeto de lei, lê-se: “as ações pedagógicas envolverão a compreensão do funcionamento dos meios de comunicação; a identificação de elementos característicos de fake news e técnicas de manipulação de conteúdos”. E ainda:
“O desenvolvimento de habilidades de checagem de informações e verificação de fontes; a promoção de pensamento crítico e do debate qualificado sobre temas de relevância pública; e ainda a utilização consciente e segura das redes sociais e de plataformas digitais”.
Vai continuar 7×1
Eu não sei quanto a vocês, mas fico tentando imaginar o que se passa na mente de um político quando pensa em algo assim: “Caraca! Sou um gênio! Como ninguém pensou nisso antes? Este projeto vai arrebentar! Uhuuu! Cadê minha assessoria?“.
Confesso que eu mesmo, quase um idoso (tenho 57), alfabetizado, empresário, jornalista, relativamente culto, enfim, li três vezes o enunciado de parte do projeto para tentar compreendê-lo em toda sua extensão e alcance. Não consegui. Desisti. Devo ser burro.
Aliás, é o que o lulopetismo pensa a respeito de todo mundo que concordou com o vídeo do PIX: “São uns burros! Precisam do papai Estado para lhes ensinar tudo”. Não é à toa que Nikolas e companhia estão deitando e rolando sobre os Lulas e Rousseffs da vida. Pelo visto, vão continuar.
Fonte: Metrópoles